Categoria: Boas Práticas de Gerenciamento de Projetos

Administradores que gostam de História: melhor visão crítica e domínio de analogias.

Administradores de Empresas, principalmente Gestores de Projeto, também devem se interessar por História… E este interesse é bastante enriquecedor para uma atuação mais crítica em diferentes áreas de conhecimento, desde o planejamento, passando pela gestão de pessoas, atingindo até mesmo áreas mais técnicas, como, por exemplo, logística e finanças. Vejamos um exemplo do que a História nos ensina:

Europa, Maio de 1941. 2ª Guerra Mundial. A Alemanha de Hitler acabara de lançar ao mar o mais poderoso navio de guerra da época, um supercouraçado batizado de “Bismarck”, em homenagem ao “Chanceler de Ferro” Otto Von Bismarck, pai da unificação alemã. Do outro lado, os Aliados, principalmente os britânicos, sabiam que a marinha alemã planejada a partir de um núcleo altamente poderoso em torno do Bismarck poderia dominar todos os acessos do Atlântico à Europa e Norte da África. O primeiro-ministro inglês, Winston Churchill, sabia qual provavelmente era a primeira missão do Bismarck: deslocar-se da Noruega até a costa da França, fortalecendo esta última como ponto estratégico.

O Bismarck era comandado pelo mais experiente almirante alemão, Günther Lütjens, um homem inteiramente dedicado ao serviço, corajoso, simples e muito inteligente.

A causa-raiz do destino trágico do supercouraçado Bismarck: Churchill certamente sabia mais a respeito dos movimentos da esquadra alemã do que Hitler, que não sabia absolutamente nada. Motivo: já fazia algum tempo que líderes alemães perceberam que era melhor não dizer nada ao Führer, até que êxito estivesse garantido. Ou seja, algo que encontramos em muitas empresas: líderes que “não gostam de ser incomodados” e que insistem em vender a ideia de que seus subordinados não devem “trazer problemas, mas sim soluções”.

O supercouraçado teria a frente milhares de quilômetros de trajeto, sendo acompanhado o tempo todo pelo cruzador pesado Prinz Eugen. Deveria escolher entre duas alternativas de trajeto:

  • Um trajeto mais curto, porém mais exposto ás frotas britânicas, ou;
  • Um trajeto mais longo, porém menos exposto – em decorrência do mal tempo –, mas que exigiria reabastecimento em alto mar. Era também um trajeto mais estreito, que dificultaria manobras em caso de uma eventual batalha (uma variável que não preocupava Lütjens).

Lütjens escolhera o trajeto mais longo, contando com a previsão de se manter camuflado pelo mal tempo por aproximadamente três dias e sabendo que encontraria mais adiante um navio-tanque alemão chamado Wollin.

Risco mal calculado: o mal tempo calculado em aproximadamente três dias ao norte da Islândia durou, na verdade, dois dias, permitindo a identificação do Bismarck pela força aérea britânica de identificação – e também americanas, que estavam iniciando participação na 2ª Guerra justamente naquele momento. O Bismarck, ciente do fato, acelerou adiante, porém entrando em combate de maneira precoce ao planejado; aliás, participando de duas batalhas seguidas, uma delas incluindo o afundamento do melhor navio de guerra britânico, o Hood. Por conta dessas duas batalhas, o Bismarck precisou se distanciar do navio-tanque alemão Wollin, ao mesmo tempo que acabara consumindo mais combustível do que o esperado. E isto não era tudo:

Embora o Prinz Eugen tivesse saído incólume às batalhas, o Bismarck não havia tido a mesma sorte. Havia sido atingido por três projéteis. Por dois deles superficialmente, mas não pelo terceiro: uma bomba havia atingido o supercouraçado na linha de flutuação. Ela atravessou dois tanques de óleo, destruiu as válvulas de sucção e acabou com mil toneladas de óleo das caldeiras (mas não explodiu). Esta situação, incluindo o fato de terem consumido mais combustível do que o esperado, forçaria o poderoso navio a desacelerar. Neste momento, com receio de acionar Hitler para apoio à tomada de decisão, o comandante-geral Lütjens decidiu prosseguir a missão.

Do outro lado, Churchill, preocupado principalmente com o motivacional dos Aliados frente a este poderio alemão, ordenou o deslocamento de diversos grandes navios, numa caçada de vida-ou-morte ao Bismarck. Este último, caso estivesse em situação normal de velocidade, jamais seria alcançado e se juntaria a outros navios de guerra na costa francesa, criando um cenário bem negativo para a 2ª Guerra. Mas não foi o que ocorreu. Com a velocidade significativamente reduzida, o Bismarck encontrou sua terceira e última batalha, cercado pelos melhores navios de guerra dos Aliados. Ainda assim, contando com a sua força bélica significativamente superior, poderia sair vitorioso, se não fosse um tiro de sorte – digamos assim, aos “quarenta e cinco minutos do segundo tempo” – por parte de um pequeno avião torpedeiro, que acertara o único ponto vulnerável do navio, o braço de ligação entre o navio e o leme, desconectando o leme de estibordo e fazendo com que o Bismarck só conseguisse se deslocar em círculos. Nesta situação, o supercouraçado tornou-se um alvo fácil, cercado por ao menos quatro grandes navios de guerra britânicos. Fim para o Bismarck e importante impacto na tentativa de supremacia alemã nos mares europeus.

Vejamos, então, dois grandes erros cometidos, fazendo um elo à Administração nas Empresas:

  • Distanciamento e problema de comunicação por parte das lideranças;
  • Erro de planejamento, não em virtude de uma escolha mal sucedida, mas pela ausência de alternativas contingenciais proporcionais ao investimento e aos riscos.

Concluindo: errar ou acertar depende muitas vezes da qualidade de uma única informação ou de um esforço adicional de comunicação entre as partes envolvidas. Como gestores, devemos nos manter sempre atentos a isto.